OS 100 MELHORES POEMAS INTERNACIONAIS DO SÉCULO XX
1º A Terra Desolada (The Waste Land), de T.S. Eliot (1888-1965) – Nascido nos EUA, Eliot se sentia culturalmente ligado à Europa, tendo morado em Londres a maior parte da vida. Além de poeta, foi ensaísta e dramaturgo, tendo recebido o Nobel em 1948. No ano de 1922 publicou este poema-marco da literatura do século, em que constrói uma cerrada rede de referências à tradição literária européia na descrição de um continente devastado por um processo de desagregação que vinha desde o Renascimento.”Poesia”, trad. de Ivati Junqueira, Nova Fronteira.
2º Tabacaria, de Fernando Pessoa (1888-1935), sob o heterônimo de Álvaro de Campos – O poeta português é autor da mais original criação poética deste século, a heteronímia, ou seja, a criação de múltiplas personalidades poéticas com vida pessoal e espiritual própria. Campos é, segundo Pessoa, um engenheiro formado em Glasgow (Inglaterra). Vivendo integralmente os conflitos da modernidade, é o mais inquieto e exaltado dos heterônimos.”Obra Poética”, Nova Aguilar; “Ficções do Interlúdio”, Companhia das Letras. (Poema postado no comentário de nº 19 desta página, pelo leitor Ulisses Ferreira)
3º O Cemitério Marinho (Le Cimetiêre Marin), de Paul Valéry (1871-1945) – Valéry foi grande ensaísta e se via sobretudo como um homem devotado à inteligência. Daí viria sua relação tensa com a poesia que o tomaria um “poeta-não poeta”, na expressão de Augusto de Campos. “Cemitério Marinho” é a prova cabal do acerto de um de seus aforismos, que diz que poema é aquilo que não pode ser resumido.”O Cemitério Marinho”, trad. de Jorge Wanderley, Max Limonad.
4º Velejando para Bizâncio (Sailing to Byzantium), de William Butler Yeats (1865-1939) – O poeta e autor teatral irlandês recebeu o Nobel de 1923. Da plena maturidade são seus poemas mais citados, como este “Velejando para Bizâncio”, no qual a velhice e a morte, confrontadas com a permanência da arte, se vêem transfiguradas num espaço mítico além da vida.”W.B. Yeats – Poemas”, trad. de Paulo Vizioli, Companhia das letras.
5º Hugh Selwin Mauberley, de Erza Pound (1885-1972) – Este poema escrito em 1920 é o trabalho longo de leitura mais fluente do autor, já que é em grande parte escrito em forma mais tradicional e tem um eixo narrativo claro, o dos descaminhos do poeta americano E.P. e de seu duplo britânico, Mauberley, ameaçados de esterilidade artística. ”Poesia”, trad. de Augusto de Campos, Hucitec.
6º Pranto por Ignacio Sánchez Mejías (Llanto por Ignacio Sánchez Mejías), de Federico García Lorca (1899-1936) -Lorca foi tanto o poeta popular do “Romanceiro Gitano” (1928) quanto àquele que se horrorizou, fascinado, diante da metrópole, em ”O Poeta em Nova York”, publicado postumamente em 1940. Foi assassinado aos 38 anos pelos franquistas no início da Guerra Civil Espanhola.”Obra Poética”, trad. de William Agel de Mello, Martins Fontes.
7º Elegias de Duíno (Duineser Elegien), de Rainer Maria Rilke (1875-1926) – Nascido em Praga, levou uma vida aristocrática, patrocinado pela nobreza européia. As ”Elegias de Duíno” emprestam seu nome do castelo próximo a Trieste onde começaram a ser compostas nos anos de 1910-1912. Só foram concluídas mais de dez anos depois.”Elegias de Duíno”, trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras.
8º À Espera dos Bárbaros, de Konstantinos Kaváfis (1863-1933) – O mais importante poeta grego deste século nasceu em Alexandria, no Egito, e morou na Inglaterra. Em “A Espera dos Bárbaros”, poema ao mesmo tempo político e ontológico, aparece a duração de um espaço em que nada se faz porque os bárbaros atacarão.”Poemas”, trad. de José Paulo Paes, Nova Fronteira. (Poema postado no comentário de nº 06 desta página)
9º Zona (Zone), de Guillaume Apollinaire (1880-1918) – Poeta francês e patriota, apesar de nascido em Roma, teve uma biografia acidentada, que inclui participação voluntária como soldado na Primeira Guerra. Em “Zona” (1913), Apollinaire elimina a pontuação e cria um ritmo nervoso; abole o que faz um canto de louvor à modernidade.”Alcools”, Gallimard, 34 francos.
10º Mensagem, de Fernando Pessoa (1888-1935) – Pessoa ele mesmo nasceu em Lisboa e passou seus anos de formação na África do Sul. Dos vários livros projetados e até efetivamente escritos por ele, ”Mensagem” (1934) foi o único publicado em vida.”Obra Poética”, Nova Aguilar. ”Mensagem”, Companhia das Letras.
11º A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock (The Love Song of J. Alfred Prufrock), de T.S Eliot (1888-1965) – Publicado pela primeira vez em 1915 numa revista literária de Chicago, abriria o primeiro livro de Eliot, de 1917.”Poesia”, trad. De Ivan Junqueira, Nova Fronteira.
12º Quatro Quartetos, de T.S. Eliot – “Poesia”, trad. de Ivan Junqueira, Nova Fronteira.
13º Cantos, de Ezra Pound – “Cantos&p;p;ammp;quuot;, trad. de José Lino Grünewald, Nova Fronteira .
14º Em Meu Ofício ou Arte Taciturna, de Dylan Thomas (1914-1955) – Nasceu no País de Gales, trabalhou como repórter. Sua poesia, às vezes de tom religioso, revisita temas como a infância e a morte. “Poemas Reunidos” (1934-1953), trad. de Ivan Junqueira, José Olympio.
15º O Cão sem Plumas, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) – Quando escreveu este poema, no final da década de 40, Cabral julgou que seria o último. O fluxo das memórias e o do rio Capibaribe se fundem nele para fazer um retrato tenso e novo do Recife. – “O Cão sem Plumas”, Nova Fronteira.
16º Quarta-Feira de Cinzas de T.S.Eliot, “Poesia”, trad. de Ivan Junqueira, Nova Fronteira.
17º Noite Insular, Jardins Invisíveis, de Lezama Lima (1910-1976) – Poeta cubano, fundador da revista “Verbum”, em 1937. Em 1959, foi nomeado por Fidel Castro diretor do departamento de literatura e publicações do Conselho Nacional de Cultura. E autor do romance ”Paradiso” (1966), lançado no Brasil em 1987. Publicou também os livros de poemas “Morte de Narciso” (1937) e “Inimigo Rumor” (1941).”Poesia Completa”, Alianza Editorial, 3.562 pesetas (Espanha).
18º Campo de Flores, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – Desde sua estréia, em 1930, com “Alguma Poesia”, Drummond se tornou poeta central para a literatura brasileira. Fechando a segunda seção de “Claro Enigma” (1951), “Campo de Flores” fala do tema do amor na maturidade. – “Claro Enigma”, Record.
19º – Blanco, de Octavio Paz (1914-1998) -Prêmio Nobel de 1990, o mexicano Octavio Paz é o único poeta que tem a mesma dimensão internacional dos ficcionistas latino-americanos. Como poeta, publicou ”Pedra de sol”, que, entre outros temas, revisita sua participação na Guerra Civil Espanhola e a experiência poética múltipla deste ”Blanco”. – ”Transblanco”, trad. de Haroldo de Campos, Siciliano.
20º Leda e o Cisne, de William Butler Yeats – ”Poemas”, trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras.
21º Jubileu, de Vladímir Maiakóvski (1893-11111930) – Nascido na Geórgia, Maiakóvski foi um entusiasta da Revolução Russa, enfrentando o desafio de escrever uma poesia engajada e ao mesmo tempo inovadora e pessoal por meio da ”linguagem da rua”. Suicidou-se seis anos após escrever ”Jubileu”. – ”Maiakóvski”, trad. de Haroldo de Campos, Perspectiva.
22º Orfeu. Eurídice. Hermes, de Rainer Maria Rilke – ”Rilke: Poesia-Coisa”, trad. de Augusto de Campos, Imago.
23º Esboço de uma Serpente, de Paul Valéry — “Poésies”, Gallimard, 34 francos (França).
24º Manhã, de Giuseppe Ungaretti (1888-19700000) – Na juventude lutou na Primeira Guerra. viveu no Brasil entre 1937 e 1942, tendo sido professor da USP. Obra-prima na captação de um momento num poeta que deseja uma poesia reduzida ao mínimo de palavras, eis todo o poema ”Manhã”, na tradução de Haroldo de Campos: ”Deslumbro-me/ de imenso”. Publicou, entre outros, ”Sentimento do Tempo” (1930), e ”A Dor” (1947).- ”Vita d’ un Uomo – Tutte le Poesie”, Mondadori, 24.00000 liras (Itália).
25º Os Doze, de Aleksandr Blok (1880-1921) — Filho de intelectuais, Blok é considerado o grande poeta simbolista russo. A partir da fracassada revolução de 1905, sua poesia ganhou um realismo que se vê em ”Os Doze” (1918) e que descreve a marcha de 12 soldados sobre a cidade. – ”Poesia Russa Moderna”, trad. de Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos.
26º O Fogo de Cada Dia, de Octavio Paz (1914-1998) – ”Obra Poética (1935-1988)”, Seix Barral, 3.800 pesetas (Espanha).
27º Sutra do Girassol, de Allen Ginsberg (11111926-1997) – Neste poema, Ginsberg fala de si ao laadoo de seu companheiro de geração ”beatnik”, Jack Kerouac (1922-1969). Sua linguagem torrencial, cheia de referências pessoais, da conta do que é típico em Ginsberg, que criou celeuma já com seu livro de estréia, ”Uivo e Outros Poemas” (1956), cujo poema-titulo chegou a ser proibido por obscenidade. – “Uivo, Kaddish e Outros Poemas”, trad. de Cláudio Willer, L&PM.
28º Romanceiro Gitano, de Federico García Lorca – “Obra Poética Completa”, trad. de WiIliam Agel de Mello.
29º Poema do Fim, de Marina Tzvietáieva (1892-1941) – Nome central da moderna poesia russa e européia, colocou-se em sua poesia contra a Revolução Russa e, mais tarde, contra o fascismo. Ao ver o marido ser fuzilado e a filha mandada para um campo de concentração, suicidou-se. – Poemas da autora saíram em ”Poesia Sempre” n. 7, em trad. de Augusto e Haroldo de Campos (Fundação Biblioteca Nacional, fax 0/xx/2l/220-4173).
30º Ode Marítima, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa – ”Ficções do Interlúdio”, Companhia das Letras; ”Obra Poética”, Nova Aguilar.
31º A Pantera, de Rainer Maria Rilke – ”Rilke: Poesia-Coisa”, trad. de Augusto de Campos, Imago.
32º As Jovens Parcas, de Paul Valéry – ”Linguaviagem”, trad. de Augusto de Campos, Cia. das Letras.
33º A Torre, de William Butler Yeats – ”The Tower”, Pengum, 3,99 libras (Reino Unido). Uma tradução de Augusto de Campos para o poema foi publicada no Mais! em 14/6/98.
34º Xenia, de Eugenio Montale (1896-1981) – Ganhador do Nobel de 1975, o poeta italiano desejou ser cantor lírico, mas foi impedido pela Primeira Guerra. Sua poesia às vezes se aproxima da prosa, tal o uso que faz de elementos não-poéticos. – ”Poesias”, trad. De Geraldo Holanda Cavalcanti, Record.
35º A Segunda Vinda, de William Butler Yeats – “Poemas”, trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras.
36º A Enguia, de Eugenio Montale (1896-19811111) – “Poesias”, trad. de Geraldo Holanda Cavalcanti, Record.
37 De Todas as Obras, de Bertolt Brecht (11111898-1956) – O principal interesse do escritor alemmão foi o teatro, que revolucionou, mas escreveu poesia por toda a vida. – “Poemas – 1913-1956″, trad. de Paulo César Souza, Brasiliense.
38º Cortejo, de Guillaume Apollinaire “Oeuvres Poétiques Complétes”, Gallimard, 290 francos (França).
39º Stretto, de Paul Cela (1920-1970) -Poeta romeno de expressão alemã, Celan chegou a ser preso num campo de concentração. Suicidou-se em Paris. – “Cristal”, trad. de Claudia Cavalcanti, Iluminuras.
40º brIlha, de e.e. cummings (1894-1962) – OOO lado mais conhecido de sua poesia está nos poemas em que trabalha com a tipografia, decompondo as palavras e introduzindo uma série de sinais, em especial parênteses. – “Poem(a)s”, trad. de Augusto de Campos, Francisco Alves.
41º Trilce, de Cesar Vallejo (1892-1938) – OOO peruano Vallejo teve a marca simbolista típica de sua geração na juventude. Posteriormente, notabilizou-se por sua poesia de cunho social, mas jamais abriu mão do impulso experimental, visível neste “Trilce” (1922). – “Trilce”, Cátedra, 1.142 pesetas (Espanha).
42º Altazor, de Vicente Huidobro (1893-19477777) – Chileno, Huidobro viveu em Paris e Madri. “Altazor” é um longo poema em que se mostra bem, em invenções vocabulares e livres associações, o caráter experimental de sua poesia. – ”Altazor e Outros Poemas”, trad. De Antônio Risério e Paulo César de Souza, ArtEditora.
43º Fragmento, de Miklos Radnoti (1909-1944) – Em seu país, a Hungria, Radnoti é um mártir do Holocausto, já que foi fuzilado pelos nazistas. – Pode ser encontrado em inglês, em ”Foamy Sky – The Major Poems of Miklos Radnoti”, trad. de Frederick Turner e Zsuzsanna Ozsvath, Books on Demand.
44º Dói Demais, de Attila József (1905-19377777) – Húngaro, foi membro do então ilegal Partido Comunista e disse sobre si mesmo ser o poeta do proletariado. Fez de sua mãe, uma lavadeira, símbolo da classe trabalhadora. – Pode ser encontrado em inglês, em ”Winter Night”, trad. de John Batki, Oberlin College Press.
45º No Túmulo de Christian Rosencreutz, de Fernando Pessoa – ”Obra Poética”, Nova Aguilar.
46º Ode Inacabada à Lama, de Francis Ponge (1899-1988) – Poeta francês que buscou afastar a poesia do eu, aproximando-a dos objetos. O mais conhecido de seus livros é ”O Parti-Pris das Coisas” (1942). – ”Oeuvres Complétes”, Gallimard, 390 francos (França).
47º O Torso Arcaico de Apoio, de Rainer Maria Rilke – Não há tradução brasileira disponível. (Poema postado no comentário de nº10, por Tejo (tradução de Manuel Bandeira)
48º Os Passos Longínquos, de César Vallejo (1892-1938) – ”Obra Poética Completa”, Alianza, 2.010 pesetas (Espanha).
49º El Hombre, de William Carlos Williams (1883-1963) – O poeta norte-americano foi escritor político, autor de peças, contos e romances, além de poemas. ”Poemas”, trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras.
50º Meus Versos São de Chumbo, de Jaroslav Seifert (1901-1986) – Foi o primeiro autor tcheco a ganhar, em 1984, o Prêmio Nobel. Há outros poemas do autor na antalogia ”Céu Vazio”, trad. De Alksandar Jovanovic, Hucitec.
51º A Máquina do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade – ”Claro Enigma”, Record.
52º A Ponte, de Hart Crane (1899-1932) – Escrito em 1930, este poema longo em 15 partes é a tentativa de fazer um épico moderno que celebrasse o poder humano de reunir passado e presente. – ”Complete Poems of Hart Crane”, W.W. Norton.
53º Dia de Outono, de R. M. Rilke – ”Poemas”, trad. José Paulo Paes, Companhia das Letras.
54º Treze Maneiras de Olhar para um Melro, de Wallace Stevens (1879-1955) – Um dos mais importantes poetas norte-americanos, sua poesia é numas vezes discursiva, noutras bem concisa. – ”Poemas”, trad. de Paulo Henriques Brito, Companhia das Letras.
55º Domingo de Manhã, de Wallace Stevens – “Poemas”, Companhia das Letras.
56º Sonetos a Orfeu, de R. M. Rilke “Poemas” – Companhia das Letras.
57º Vigília, de Giuseppe Ungaretti – Em “Poesia Alheia”, trad. Nelson Ascher, Imago.
58º Perfil Grego, de Iannis Ritsos (1909-1999990) – Comunista, o poeta grego foi preso pelos nazistas; depois, sua militância política lhe custaria o exílio. Há outros poemas do autor em “Gaveta do Tradutor”, trad. de José Paulo Paes, Letras Contemporâneas.
59º Poema dos Dons, de Jorge Luis Borges (11111899-1986) – O grande autor do “boom” lattinno-americano, o argentino é muito mais lembrado por seus contos do que por sua refinada poesia. – “Obras Completas”, vol. 2, trad. de Josely Vianna Baptista, Globo.
60º O Guardador de Rebanhos, de AIberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa – Segundo Pessoa, Caeiro nasceu em 1889 e era um homem inculto que sempre viveu numa aldeia. E reconhecido como o mestre dos outros heterônimos e do próprio Pessoa. – ”Ficções do Interlúdio”, Companhia das Letras.
61º Nalgum lugar em que nunca estive, de e…..e. cummings (1894-1962) – ”Poem(a)s”, trad. de Augusto de Campos, Francisco Alves.
62º Omeros, de Derek Walcott (1930) – Poeta caribenho de expressão inglesa, ganhador do Nobel em 1992, procura criar uma arte que dê conta da fusão cultural de sua região. – ”Omeros”, trad. de Paulo Vizioli, Companhia das Letras.
63º Degraus, de Hermann Hesse (1877-1962) Autor do romance ”Lobo da Estepe” (1927), como poeta não dispensou um certo sentimentalismo ao explorar temas como a infância, a solidão. Ganhou o Nobel em 1946. – ”Gesammelte Werke”, Suhrkamp, 148 marcos (Alemanha).
64º A Serguei Iessiênin de Vládimir Maiakóvski (1893-1930) – ‘Poemas”, Perspectiva.
65º O Duro Cerne da Beleza, de WiIliam Carlos Williams – “Poemas”, trad. José Paulo Paes, Companhia das Letras.
66º – Sestina: Altaforte, de Ezra Pound “Poesia”, Hucitec.
67º – Argumentum et Silentio, de Celan “Gesammelte Werke – Gedichte”, Suhrkamp, 49,80 marcos (Alemanha).
68º- Encantação pelo Riso, de Vielimir Klebnikov (1885-1922) – Poeta russo considerado o líder do cubo-futurismo. – “Poesia Russa Modema”, Brasiliense.
69 Anabase, de Saint-John Perse (l887-1975) – Pseudônimo do diplomata francês Alexis Léger. Teve sua nacionalidade cassada na Segunda Guerra quando foi viver nos EUA. Só regressou a seu país em 1957. Ganhou o Nobel em 1960. ”Éloges”, Gallimard.
70º Voz a Ti Devida, de Pedro Salinas (1892-1951) – O poeta espanhol notabilizou-se com seus poemas de amor. – ”Voz a Ti Debida”, Losada, 617 pesetas.
71º Réquiem, de Ana Akhmátova (1888-1966) Fundadora do acmeísmo, corrente que se situa entre o simbolismo e o futurismo, a poeta russa foi considerada decadente durante a época do ”realismo socialista”. Sua poesia refinada e melancólica, mostra-se inteira em ”Réquiem”, um conjunto de pequenos poemas escritos entre 1925 e 1930. – ”Réquiem e Outros Poemas”, Art Editora.
72º As Janelas, de Apollinaire – ”Oeuvres Poétiques Complètes” (Gallimard).
73º A Ponte Mirabeau, de Guillaume Apollinaire – “Oeuvres Poétiques Complètes”.
74º Oxford, de W.H. Auden (1907-1973) – O poeta britânico compartilhou com T.S. Eliot o pessimismo sobre o presente, mas não celebrou o passado: sendo homem da esquerda, viu o futuro com os olhos da utopia. Tematizou o amor homossexual e a religião. – ”Poemas”, trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras.
75º Em Memória de Yeats, de W.H. Auden – ”Poemas”, Companhia das Letras.
76º Briggflatts, de Basil Bunting (1900-1985) – E o poeta inglês mais conhecido nos Estados Unidos. Só se projetou em seu país aos 66 anos, com ”Briggflatts”, poema autobiográfico em que procurou explorar os aspectos linguísticos e antropológicos de sua região natal. – ”The Complete Poems”, Oxford University Press, 11,99 libras (Reino Unido).
77º No Centenário de Mondrian, de João Cabral de Melo Neto – ”Obra Poética”, Nova Aguillar.
78º Serpente, de D.H. Lawrence (1885-1930) — O ficcionista, crítico e poeta inglês ficou conhecido por romances como – ”Filhos e Amantes” (1913) e ”O Amante Lady Chatterley” (1928), processado como pornográfico. A divulgação de sua melhor poesia se fez postumamente. – ”The Complete Poems”, Penguim.
79º Áporo, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – ”A Rosa do Povo”, Record.
80º Dizer Tudo, de Paul Éluard (1895-1952) — Na adolescência, o francês Éluard teve tuberculose e foi companheiro de tratamento e de leitura de poesia do brasileiro Manuel Bandeira num sanatório na Suíça. Foi um dos grandes mestres do surrealismo. – ”Oeuvres Complètes 1913-1953″ (2 vols.), Gallimard, 700 francos (França).
81º Liberdade, de Paul Éluard (1895-1952) – Em ”Gaveta do Tradutor”, trad. de José Paulo Paes, Ed. Letras Contemporâneas.
82º Morte sem Fim, de José Gorostiza (1901-1973) – O poeta mexicano preferiu, de maneira geral, o poema curto, mas este ”Morte sem Fim” (1931) é um texto longo em que reaparecem as grandes essências que ele mesmo definiu como suas prediletas amor, morte, Deus. – ”Poesia Completa”, Fondo de Cultura Economica, 2.284 pesetas (Espanha).
83º Romance Sonâmbulo, de Federico García Lorca – ”Obra Poética Completa”, Martins Fontes.
84º Pedra de Sol, de Octavio Paz – ”Pedra de Sol”, Guanabara
85º Autopsicografia de Fernando. Pessoa – ”Obra Poética”, Nova Aguilar.
86º Os Cisnes Selvagens de Coole, de William Butler Yeats – ”Poemas”, Companhia das Letras.
87º Canção do Mal-Amado, de Guillaume Apolinaire – ”Oeuvres Poétiques Complètes” (Gallimard).
88º Sobre a Poesia Moderna, Wallace Stevens – ”Poemas”, Companhia das Letras.
89º Sobre o Pobre BB, de Bertold Bretcht – Em ”Poesia Alheia”, trad. De Nelson Ascher, Imago.
90º Tristia, de Óssip Mandeistam (1891-1938) – Nasceu em Varsóvia e, muito jovem, esteve em Paris, aproximando-se do simbolismo francês. Mais tarde, tornou-se participante de destaque do acmeísmo.Há outro poema do autor na revista ”Poesia Sempre” nº 7, abril/99, trad. de Haroldo de Campos (Fundação Biblioteca Nacional, fax 0/xx/211220-4173).
91º Miniatura Medieval, de Wislawa Szymbosrka (1923) – A escritora polonesa ganhou o Prêmio Nobbel de 1996. Estreou em 1952 com ”Por Isso Vivemos” e pertence a uma rica geração de artistas poloneses, entre os quais se inclui o cineasta Andrzej Wajda. – Há outros poema do autora em ”Poesia Alheia” (Imago) e na antologia ”Céu Vazio” (Hucitec).
92º Fuga sobre a Morte, de Paul Celan ”Cristal”, trad. de Claudia Cavalcanti, Iluminuras.
93º Ode ao Rei do Harlem, de Federico García Lorca – ”Obra Poética Completa”. M. Fontes.
94º Dispersão, de Mário de Sá-Carneiro (18999990-1916) – Apesar de ter se suicidado com apenas 26 anos, pôde escrever o suficiente para ser o principal autor português do início do século, ao lado de Fernando Pessoa.”Poesia”, Iluminuras. – “Obra Poética”, Nova Aguilar.
95º Os Peixes, de Marianne Moore (1887-1972) – Norte-Americana, foi professora universitária. Virtuose da versificação, trabalhou com a decomposição dos versos e da sintaxe. – “Poemas”, trad. de José Antonio Arantes, Companhia das Letras.
96º Provérbios e Cantares, de Antonio Machado (1876-1939) – Nascido em Sevilha, passou seus anos de formação em Madri. A extrema simplicidade formal da poesia de Machado esconde, porém, uma grande complexidade. – “Poesias Completas”, Espasa Calpe, 1.005 pesetas (Fspanha).
97º As Ratazanas, de Georg Traki (1887-1914) – O austríaco foi um expressionista que enlouqueceu com os horrores da Primeira Guerra, na qual serviu como enfermeiro. – “Poemas à Noite”, trad. de Marco Lucchesi, Topbooks.
98º A Outra Tradição, de Josh Ashberry (1927) – Poeta americano que pertenceu à chamada Escola de Nova York. Sua poesia é auto-referencial e expressa uma visão de mundo cética, mas que não perde o humor.Há outro poema do autor em ”Poesia Alheia”, trad. de Nelson Ascher, Imago.
99º Acalanto, de Elizaheth Bishop (1911-1979) – A escritora norte-americana viveu no Brasil em Ouro Preto e no Rio de Janeiro por 16 anos. Além de poesia, escreveu contos, memórias e tem uma rica obra em cartas.”Poemas”, trad. de Horácio Costa, Companhia das Letras.
100º Homem e Mulher Passam pelo Pavilhão de cancerosos, de Gottfried Benn (1886-1956) – A poesia inicial deste autor alemão é expressionista. Sua poesia madura, como a reunida no volume “Poemas Estáticos” (1948), é hermética e niilista. – Em ”Poesia Alheia”, Imago.
Folha de São Paulo, 02/01/2000
Uma bela listagem e muito com que me entreter!
Bom fds! Boa leitura e poesia!
Abraços poema,
joão m. jacinto
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Pingback: A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK – T.S. Eliot « PALAVRAS RABISCADAS
Vc pode incluir esses poemas no teu blog? Não adianta ter a relação e não ter o poema para ler…
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Que maravilha! vou levar pra mim
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É uma lista e tanto! Gostei.
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Muito legal. Encontrei o blog porque estava procurando o poema A Espera dos Bárbaros, tens ele contigo? Eu o li há muito tempo em uma Antologia e gostaria de relê-lo.
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Helmuth, eis o poema:
À ESPERA DOS BÁRBAROS – Konstantinos Kaváfis
O que esperamos na agora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
PS: Ocupa a 8ª posição na lista dos 100 melhores.
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Não é a toa que ocupa a oitava posição. É muito bom. Grato pelo poema.
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só de ter o indice de poemas já ajudou, vou procurar alguns poemas na internet pelo título e autor. Agradeço!!!
Beijinhos.
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Bom dia Kátia. Os poemas destacados na cor azul são os que têm aqui no blog. Até pensei em publicar o máximo que eu pudesse encontrar dessa lista, mas é aquilo, tem a questão de gosto, embora sejam considerados os melhores, alguns eu não me identifiquei, e costumo colocar textos que me agradam (isso não é regra, nem sempre, nem todos… as vezes penso no leitor, apenas!) Obrigada pela visita. Abraços. Marli.
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Uma correção: o “Torso Arcaico de Apoio”, de Rainer Maria Rilke, tem tradução sim, inclusive de Manuel Bandeira:
Não sabemos como era a cabeça, que falta,
De pupilas amadurecidas, porém
O torso arde ainda como um candelabro e tem,
Só que meio apagada, a luz do olhar, que salta
E brilha. Se não fosse assim, a curva rara
Do peito não deslumbraria, nem achar
Caminho poderia um sorriso e baixar
Da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.
Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não tranporia desmedida
Como uma estrela; pois ali ponto não há
Que não te mire. Força é mudares de vida.
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Olá Tejo.
Que maravilha de informação… E além do mais contribuiu com a publicação de um lindo poema, eu ADOREI, já considero postado aqui no “Palavras Rabiscadas” por voce. Agradeço de coração.
Beijos. Marli.
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Quem fez essa lista, vc sabe?
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Olá! Não tenho essa informação.
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faltou nessa lista o magnífico poema de Drummond “A flor e a Náusea”. Na minha opinião, todos os homens deveriam ter o direito de ler e a obrigação de procurar compreender essa pequena obra prima da nossa literatura. É um privilégio de quem fala português poder ler essa obra, de nosso poeta maior, sem precisar de tradução.
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Olá, tudo bem?
Bom, se “A flor e a Náusea” não foi listado entre os melhores, devo pelo menos publicá-lo no meu blog, não é? Bem lembrado, farei isso agora. Obrigada por contribuir com sua opinião.
Abraços.
Marli
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Muito legal esse site, gostei,Estou produzindo um cd de poesias em aúdio e estou incluindo alguns poemas de minha autoria e de autores que considero fantásticos, que estão na lista dos cem mais, embora ache que caberiam mais outros bons autores ai nessa lista. Inclsuive se quiserem podem acessar meu blog literário denominado riodasletrasitbblogspot.com.
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Adorei o site. Não sei como abrir os poemas em azul. Porque não disponibiliza outros? Compartilhemos
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Olá Fátima, bom dia!
Basta clicar no título do poema que você quer ler , que assim será direcionada à página que se encontra o texto (alguns estão postados nos comentários desta página)
Quanto às publicações desses poemas, ainda não tive acesso a todos, e alguns deles, não gostei muito, mas vale dizer que são excelentes poetas, consagradíssimos, que fazem parte da listagem, já li outros poemas deles, são ótimos. Tudo é uma questão de identificação com esse ou aquele poema, ou poeta.
É o mesmo que penso em relação a determinados filmes que ganharam Oscar, alguns eu acho que não tem nada a ver…
Considerando que este blog não é só meu, pertence também aos meus leitores, publicarei sim, sempre que possível.
Hoje publicado o que ocupa a 64ª posição – https://mscamp.wordpress.com/2010/02/26/a-sierguei-iessienin-vladimir-maiakovski/
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Pingback: A SIERGUÉI IESSIÊNIN – Vládimir Maiakóvski « PALAVRAS RABISCADAS
NOS CEM MELHORES FIGURA O SEGUNDO.
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim…
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas –
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno – não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
FERNANDO PESSOA
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Olá Ulisses.
Obrigada por postar ‘Tabacaria’. É um grande poema, nos dois sentidos /rs/
“Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
Se não estou enganada, acredito serem esses os versos, muitas vezes pronunciados na comédia romântica: “Fica comigo esta noite” – filme brasileiro, muito gostosinho de assistir, eu indico…
Abraços.
Marli.
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Muita paz
Parabéns pelo blog. Bom gosto e inteligencia.
Fernando
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Eu me senti honrada com sua visita, Fernando, espero que volte mais vezes.
Abraços,
Marli.
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Parabéns que maravilha
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Parabéns pelo blog que está muito interessante.
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Parabéns pelo blog, está fantástico. Eu também escrevo umas “palavras com alma…
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Pingback: O GUARDADOR DE REBANHOS – Fernando Pessoa « PALAVRAS RABISCADAS
Com rimas ou sem rimas,
transcrevevo meu verso,
A minha história de vida,
Com verso eu converso.
Falo do mundo, do amor,
Da natureza, da lua,
Falo da linda morena,
Que se exibia nua.
Falo de todos, de mim,
Sem querer com a verdade,
Ferir quem viveu essa história,
Cada um com sua liberdade.
Sua vida em verso e prosa,
Posso aqui descrever,
Sou apenas um poeta,
Versos a escrever.
Com rima ou sem rima,
Passo a vida a poetar,
Como poeta de talento,
Na mulher a me inspirar.
Do poeta: Paulo de Andrade
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Pingback: Os números de 2010 « PALAVRAS RABISCADAS
onde encontro O Cemitério Marinho Paul Valery traduziado pelo Jorge Wanderley ?
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O CEMITÉRIO MARINHO Tradução: Jorge Wanderley
Ó minha alma, não aspira à vida
imortal, mas esgota o campo do possível.
(Píticas, III)
Esse teto tranquilo, onde andam pombas,
Freme em tumbas e pinhos, quando tomba
Pleno o Meio-Dia e cria, abrasado,
O mar, o mar, sempre recomeçado!
Ó recompensa, após o ter pensado,
O olhar à paz dos deuses, prolongado!
Que labor de lampejos se consuma
Plural diamante de furtiva espuma
E a paz que se parece conceber!
Quando no abismo um sol procura pausa,
Pura obra-prima de uma eterna causa,
O Tempo cintila e o Sonho é saber.
Tesouro estável, templo de Minerva,
Massa de calma e visível reserva,
Mar soberano, olho a guardar secreto
Sob um véu de chama o sono que acalma,
Ó meu silêncio!.. Edifício em minh’alma
Dourado cume de mil telhas, Teto!
Templo do Tempo, expresso num suspiro
Chegado ao alto eu amo o meu retiro,
De todo envolto em meu olhar marinho;
E como aos deuses melhor doação,
Semeia a serena cintilação
Desdém soberbo em meu alto caminho.
Como no gozo o fruto se dissolve,
E em delícia sua ausência se resolve
Na boca em que se extingue sua forma,
Sorvo aqui o futuro dos meus fumos,
E canta o céu, à alma que consumo,
As margens que em rumores se transformam.
Belo céu, vero céu me transfiguro!
Depois de tanto orgulho e estranho e impuro
Lazer – mesmo com forças a contento –
Eu me abandono ao reluzente espaço
E ao lar dos mortos, feito sombra, passo
Confinado a seus débeis movimentos.
Às tochas do solstício a alma aceita
E bem defende a justiça perfeita
Da luz, com suas armas sem piedade!
Torno-te, em teu lugar de origem, pura;
Mas olha!… ter a luz por criatura
Supõe de sombra uma triste metade.
Só pra mim, exclusividade extrema,
Perto de um peito, às fontes do poema,
Dividido entre o vácuo e o fato puro,
Quero escutar minha grandeza interna,
Amarga, escura e sonora cisterna,
N’alma um vazio som, sempre futuro!
Ó falso prisioneiro da folhagem,
Golfo que engole as grades em ramagem,
Vês nos meus olhos segredos ardentes,
Que corpo ao seu fim ocioso me impele,
Que fronte aos ossos da terra o compele?
Uma centelha lembra meus ausentes.
Fechado, sacro, em fogo imaterial,
Terreno ofertado à luz matinal,
Pleno de chamas – amo este lugar,
Composto em ouro e pedra, sombras, árvores
Onde por sobre sombras treme o mármore;
Sobre as tumbas, fiel, repousa o mar!
Cão esplendente, afasta adoradores!
Quando sozinho, em riso de pastores
Calmo apascento ovelhas misteriosas,
Rebanho branco de tumbas quiescentes,
Afasta logo essas pombas prudentes,
E os sonhos vãos e os anjos curiosos!
Aqui chegado, é preguiça, o futuro,
Toda a secura arranha, o inseto puro;
Queimado e findo é tudo ao ar doado
E a alguma que não sei, severa essência…
A vida é ampla, quando ébria de ausência
Doce amargura , o espírito aclarado.
Os mortos vão bem, guardados na terra
Que os aquece e os mistérios lhes encerra.
O meio-dia imóvel na amplidão
Pensa em si mesmo, e se vê satisfeito…
Completa fronte, diadema perfeito,
Eu sou em ti secreta alteração.
Só tens a mim para te proteger!
Remorsos, dúvidas que eu conhecer,
Do teu grande diamante são defeitos…
Mas numa noite pesada de mármores
Um povo errante entre raízes de árvores
Tem lentamente o teu partido aceito.
Eles se apagam numa ausência franca,
Bebeu a argila rubra a espécie branca.
O dom da vida em flores se recria!
Dos mortos, onde as frases familiares
As artes próprias, almas singulares?
E fia a larva onde o pranto nascia.
Os gritos das donzelas excitadas,
Os olhos, dentes, pálpebras molhadas,
O seio, encanto que brinca com fogo,
O sangue, luz nos lábios que se rendem,
Os bens finais e os dedos que os defendem,
Tudo retorna à terra e ao mesmo jogo!
E tu, grande alma, por um sonho esperas
Que já não tem as cores das quimeras
Que a humanos olhos o ouro e a onda trazem?
Cantarás, quando apenas vaporosa?
Tudo me foge à presença porosa,
Sagradas ânsias também se desfazem!
Magra imortalidade, negra e de ouro.
Consoladora horrível em seus louros,
Que fazes da morte um seio materno,
Bela mentira, a cilada mais pia,
Quem não conhece e quem não repudia
O crânio oco, este sorrir eterno?
Profundos pais, cabeças desertadas,
Sob o peso e o trabalho das enxadas
Sois a terra, e os passos nos perturbais;
O irrefutável roedor, o verme,
Não é para vós, que dormis inermes,
É para a vida e não me deixa mais!
Amor, talvez, ou ódio é que o anima?
Tanto o seu dente oculto se aproxima
Que os nomes todos lhe são convenientes!
Que importa? Ele vê, sonha, quer, reclama!
Ama-me a carne, e mesmo em minha cama
A este ser pertenço eternamente!
Zenão, Zenão de Eléia, desumano!
Feriste-me de um dardo alado e insano
Que voa e está inerte nos espaços!
Gera-me o som, rouba-me o dardo a vida!
Ó sol… Que tartaruga à alma surgida,
Ver Aquiles imóvel nos seus passos!
Não, não!… De pé!… às horas sucessivas!
Quebra, meu corpo, a forma pensativa!
Bebe, meu seio, a brisa renascida!
Um novo frescor, do mar exalado
Devolve-me a alma… Ó poder salgado!
Vamos à onda, ao ímpeto da vida!
Sim! Grande mar de delírios dotado,
Pelo de pantera, manto rasgado
É por mil ídolos do sol ferido,
Ébria da carne azul, hidra absoluta
Que em luz a própria cauda morde e luta
Num tumulto ao silêncio parecido,
Eis se ergue o vento!… Há que tentar viver!
O ar me abre e fecha o livro que ia ler;
Vaga audaciosa, às rochas te esfacelas!
Pois voa, página que enlouqueceste!
Rompei, vagas,de águas felizes, este
Teto tranquilo onde bicavam velas!
Fonte:
O CEMITÉRIO MARINHO
Tradução: Jorge Wanderley
Grata pela visita!
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legAUUUUUUUUUUUUUU
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Amei todos
quero tuuuuuuuuudo!!! Beijos
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Muito legal colocar no mundo virtual a magia das palavras que dizem e talvez reflitam o que somos…Também tenho um blog literário chamado rio das letras,tem alguns textos meus e de outros autores lá. Riodasletrasitbblogspot.com.Em Itaituba uma cidade do Oeste do Pará, região garimpeira;Quanto ao poema é profundo bem elaborado, parabéns ao autor..
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Acabei de vir de lá, do seu blog, passei para conhecer, achei bem legal. Parabéns!…
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Nossa CEmiterio do VAlery é explendido legal pelo post seu blog é otimo
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Òtima fonte de pesquisa.
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Os cem melhores poemas internacionais do século XX
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“Basta clicar no título do poema que você quer ler , que assim será direcionada à página que se encontra o texto (alguns estão postados nos comentários desta página)
Quanto às publicações desses poemas, ainda não tive acesso a todos, e alguns deles, não gostei muito, mas vale dizer que são excelentes poetas, consagradíssimos, que fazem parte da listagem, já li outros poemas deles, são ótimos. Tudo é uma questão de identificação com esse ou aquele poema ou poeta.”
Fonte: https://mscamp.wordpress.com/paginas-escritas/os-cem-melhores-poemas-internacionais-do-seculo-xx/
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Não sei quem fez tal lista, mas a indiferença com Ferreira Gullar é e sempre será uma imensa gafe. Para ilustrar, deixo apenas o título de um dos maiores poemas não só do século XX mas de todos os séculos: Poema Sujo.
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“A maquina do mundo” de Drummond é um poema imenso, justamente por não ser tão longo como Terra Desolada, eis pois:
como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,
assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,
a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
“O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,
olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste… vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”
As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber
no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,
e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:
e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,
tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.
Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,
a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;
como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face
que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,
passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes
em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,
baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
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Estou reproduzindo tua lista no facebook, ok? Grata, Nydia Bonetti.
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faltou essa poema do Jorge de Lima:
Mulher proletária
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
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e esse do Maiakoviski
A plenos pulmões
VLADÍMIR MAIAKÓVSKI
Primeira introdução ao Poema
Caros
camaradas
futuros!
Revolvendo
a merca fóssil
de agora,
perscrutando
estes dias escuros,
talvez
perguntareis
por mim. Ora,
começará
vosso homem de ciência,
afogando os porquês
num banho de sabença,
conta-se
que outrora
um férvido cantor
a água sem fervura
combateu com fervor. (1)
Professor,
jogue fora
as lentes-bicicleta!
A mim cabe falar
de mim
de minha era.
Eu — incinerador,
eu — sanitarista,
a revolução
me convoca e me alista.
Troco pelo “front”
a horticultura airosa
da poesia —
fêmea caprichosa.
Ela ajardina o jardim
virgem
vargem
sombra
alfrombra.
“É assim o jardim de jasmim,
o jardim de jasmim do alfenim”.
Este verte versos feito regador,
aquele os baba,
boca em babador, —
bonifrates encapelados,
descabelados vates —
entendê-los,
ao diabo!,
quem há-de…
Quarentena é inútil contra eles —
mandolinam por detrás das paredes:
“Ta-ran-ten-n-n…”
Triste honra,
se de tais rosas
minha estátua se erigisse:
na praça
escarra a tuberculose;
putas e rufiões
numa ronda de sífilis.
Também a mim
a propaganda
cansa,
é tão fácil
alinhavar
romanças, —
Mas eu
me dominava
entretanto
e pisava
a garganta do meu canto.
Escutai,
camaradas futuros,
o agitador,
o cáustico caudilho,
o extintor
dos melífluos enxurros:
por cima
dos opúsculos líricos,
eu vos falo
como um vivo aos vivos.
Chego a vós,
à Comuna distante,
não como Iessiênin,
guitarriarcaico.
Mas através
dos séculos em arco
sobre os poetas
e sobre os governantes.
Meu verso chegará,
não como a seta
lírico-amável,
que persegue a caça.
Nem como
ao numismata
a moeda gasta,
nem como a luz
das estrelas decrépitas.
Meu verso
com labor
rompe a mole dos anos,
e assoma
a olho nu,
palpável,
bruto,
como a nossos dias
chega o aqueduto
levantado
por escravos romanos.
No túmulo dos livros,
versos como ossos,
Se estas estrofes de aço
Acaso descobrirdes,
vós as respeitareis,
como quem vê destroços
de um arsenal antigo,
mas terrível.
Ao ouvido
não diz
blandícias
minha voz;
lóbulos de donzelas
de cachos e bandos
não faço enrubescer
com lascivos rondós.
Desdobro minhas páginas
— tropas em parada,
E passo em revista
o “front” das palavras.
Estrofes estacam
chumbo-severas,
Prontas para o triunfo
ou para a morte.
Poemas-canhões,
rígida coorte,
apontando
as maiúsculas
abertas.
Ei-la,
a cavalaria do sarcasmo,
minha arma favorita,
alerta para a luta.
Rimas em riste,
sofreando o entusiasmo,
eriça
suas lanças agudas.
E todo
este exército aguerrido,
vinte anos de combates,
não batido,
eu vos dôo,
proletários do planeta,
cada folha
até a última letra.
O inimigo
da colossal
classe obreira,
é também
meu inimigo figadal.
Anos
de servidão e de miséria
comandavam
nossa bandeira vermelha.
Nós abríamos Marx
volume após volume,
janelas
de nossa casa
abertas amplamente,
mas ainda sem ler
saberíamos o rumo!
onde combater,
de que lado,
em que frente.
Dialética, não aprendemos com Hegel. Invadiu-nos os versos
Ao fragor das batalhas,
Quando,
sob o nosso projétil,
debandava o burguês
que antes nos debandara.
Que essa viúva desolada,
— glória —
se arraste
após os gênios,
merencória.
Morre,
meu verso,
como um soldado
anônimo
na lufada do assalto.
Cuspo
Sobre o bronze pesadíssimo,
cuspo
sobre o mármore, viscoso.
Partilhemos a glória, —
entre nós todos, —
o comum monumento:
o socialismo,
forjado
na refrega
e no fogo.
Vindouros,
Varejai vossos léxicos:
do Letes
brotam letras como lixo —
“tuberculose”,
“bloqueio”,
“meretrício”.
Por vós, geração de saudáveis, —
um poeta,
com a língua dos cartazes,
lambeu
os escarros da tísis.
A cauda dos anos
faz-me agora
um monstro,
fossilcoleante.
Camarada vida,
vamos,
para diante,
galopemos
pelo qüinqüênio afora. (2)
Os versos
para mim
não deram rublos,
nem mobílias
de madeiras caras.
Uma camisa
Lavada e clara,
e basta, —
para mim é tudo.
Ao
Comitê Central
do futuro
ofuscante,
sobre a malta
dos vates
velhacos e falsários,
apresento
em lugar
do registro partidário
todos
os cem tomos
dos meus livros militantes.
[Dezembro, 1929/janeiro, 1930]
Notas
1 — Maiakóvski escreveu versos de propaganda sanitária.
2 — Alusão aos Planos Qüinqüenais soviéticos.
(Provavelmente, como não tenho controle da página do jornal na internet, o poema vai perder a forma na qual foi escrito. Espero que, pelo menos, ao se ter preservado o conteúdo, o leitor se contente com a poesia de Maiakóvski, com um de seus poemas mais conhecidos. A tradução é de Haroldo de Campos. Onde está “saudáves”, pus saudáveis. E. Carrera Guerra usa, na sua versão, “ágeis e robustos”.)
Trad. Haroldo de Campos
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Abertos os salmos, as portas, as janelas.
E as tochas ávidas pelos territórios,
as horas felizes em alerta,
os santos também genuflexos.
As frutas aguardam as entregas,
de suculentas quase se rasgam, abertas.
O país um ponto a mais na tabela.
Os sóis em seus giros, a poeira assentada,
os botões que se entreabrem,
os seios, as fissuras dos músculos, as veias;
as costuras com os melhores pontos,
os números todos unificados no universo.
As rimas podem ficar quietas,
amparadas em seus zelos;
as palavras podem aguardar
um pouco sossegadas nos corpos.
Os pais, os filhos e seus pássaros e mariposas
caminham em direção
aos dias lavados e costurados,
asas e mãos confiantes, acesos de sol e alegria.
Autoria: Salomão Sousa
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A poesia mais lida, mais comentada e mais linda de todas não está no seu blog. Chama-se Homem de Adna Maria ferreira de Souza.
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Homem de adnajak, é a mais bela poesia dos tempos atuais.
Bela
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Que Maravilha !!!!!
Nunca vi tantas belezas literarias juntas !!!!
Vou publicar no meu Blog !!!
claro que citando o teu blog..
obrigado e bjjjj
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PODEM NÃO REPRESENTAR OS CEM MELHORES, MAS, PODEM CRER, É, SEM DÚVIDA, UMA BELÍSSIMA SELEÇÃO. PARABÉNS…!
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esses poemas e muito legal msm e o melhor xat q eu ja entrei
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HOMEM – de Adna Maria Ferreira de Souza
Quando és semente apenas… É no corpo de uma Mulher que germinas.
Quando nasces chorando… É nos braços de uma Mulher que te acalmas.
Quando tentas andar… É com auxílio de uma Mulher que arriscas os primeiros passos.
Quando sentes fome… É nos seios de uma Mulher que te sacias.
Quando começas a falar… É uma Mulher quem te ensina as primeiras palavras.
Quando te preparas para enfrentar a vida.. E uma Mulher quem te incentiva e te molda o caráter.
Quando começas a despertar para o amor… É uma Mulher que te faz sonhar.
Quando sentes solidão…É uma Mulher que procuras para ser tua companheira ao longo da vida.
Quando te multiplicas.É uma Mulher que dá luz aos teus filhos dando continuidade a tua descendência…
Quando enfim entenderás… Que a Mulher compartilha com a natureza a criação da própria vida.
Quando enfim entenderás que precisas dela?
Respeita-a, ama-a, proteja-a!
E certamente te sentirás mais HOMEM
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que fofos
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parabéns!! adoro leitura e realmente esta pagina esta um sucesso..
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bem amei, sou poetisa, e deixo aqui na brancura das linhas mesmo tortas do vicio da palavra rabiscada algo do meu amago da minha poesia branca e que levita na pagina do arco iris, na pagina que ira abrandar coraçoes doentes.
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Pingback: Melhores poemas de todos os tempos | A Magia da Poesia
eu amo poemas sou apaixonada esses poemas sao lindos lindos eu tambem sou poeta vou fazer um poema aqui perguntei para um amigo;Oque e mais importante, amar ou ser amado?E ele me respondeu;Oque e mais importante para um passaro, a asa esquerda ou a direita?FIM
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KKKKKKKK LINDO!
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Quem escreve os melhores poemas do mundo?
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Qum invuluiu os poemas?
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Quem o pai da historia?
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Obrigada pela partilha :))
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ESTOU À DERIVA.
É triste acordar
E não ver o sol brilhar;
E tão mais triste é perceber
Que a noite está é em você.
E tão mais triste ainda é descobri
Que se morre um tanto assim
Por quem vive tão alheio a ti.
Deveras sou…
Um veleiro à deriva:
Sem rumo,
Sem remos,
Sem porto na vida.
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“O PRIMEIRO OLHAR DA JANELA PELA MANHÔ
“O primeiro olhar da janela pela manhã” me chama:
O sol despontando através do nevoeiro,
E na praça ainda vazia, o sorveteiro;
E dá-se meu encontro definitivo com Quintana.
Vem andarilhando manso na brisa que vem do leste
E pousa na minha mão deslizando suave no papel;
Séculos de melancolias pincelando o azul do céu.
Em mim, lentamente, gotas de rimas descortinam o véu.
Posso senti-las em minhas células em travessias;
Trazendo à minha alma estéril o lirismo da poesia.
Eu que quase nada sei de amar…
Psicografo a alma usando os dedos com exatidão,
Da mais vil à mais sublime paixão.
Eu que nunca soube sonhar!
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TE ESQUECER EM PARIS
Nos becos da velha Paris;
Nos braços de uma mademoiselli qualquer,
Refiz minhas noites de solidão
E consumei o ato de amar quem me quer.
Monet ainda teimava em acompanhar-me;
Aquele refinado impressionismo já não me convence mais.
Perdi-me nos longos bares de whisky barato
E lá morri toda noite buscando um pouco de paz.
Eu vi o outono chegar e levar as últimas folhas secas
E ainda vi o inverno gelado nevar a minha cabeça.
Eu vi meu corpo envelhecer amiúde e chorei;
E um dia vi as luzes se apagarem atrás de mim
E a última nota do violino se despediu.
Percebi que ainda havia tempo de recomeçar e voltei.
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Todos esses poemas são devidamente registrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
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Apesar da ausência de Ferreira Gullar e Charles Bukowski, é uma boa seleção.
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adoro Augusto dos Anjos acho que seria legal se você colocasse alguns, afinal, ele é um dos melhores poetas brasileiro.
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FALTOU “O CORVO”!
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WHEN THE LEAVES FALL QUANDO AS FOLHAS CAEM
WHEN THE LEAVES FALL QUANDO AS FOLHAS CAEM
I WAIT FOR YOU EU ESPERO POR VOCE
BUT YOU NEVER CALL MAS VOCE NUNCA CHAMA
FOR MY NAME TOO. POR MEU NOME TAMBEM.
WHEN THE LEAVES FALL QUANDO AS FOLHAS CAEM
IN MY HEART A PAIN EM MEU CORACAO UMA DOR
TELL ME YOU NEVER I’LL CALL ME DIZ QUE VOCE NUNCA CHAMARA
FOR MY NAME AGAIN. POR MEU NOME OUTRA VEZ.
WHEN THE LEAVES GROW QUANDO AS FOLHAS CRESCEM
AT THE SPRING’S BEGIN NO INICIO DA PRIMAVERA
THEN IN MY FACE FALL ENTAO EM MEU ROSTO CAI
A DROP OF A RAIN… UMA GOTA DE CHUVA…
author: luiz angelo vilela tannus
uberlandia/mg/brazil
luanvita@bol.com.br
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Pingback: 30 Melhores poemas de todos os tempos , por Fábio Rocha , em A Magia da Poesia | It's a very deep sea
eu gostaria de um poema do joao pessoa com mais de três vesos ate amanha as 7:00 horas da manha por favor.
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afff quero tudoooooooooo
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Parabéns pelo blog. Você tem bom gosto. Mas os poemas a flor e a nausea e a máquina do mundo mereciam estar nesta lista!!
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Vendo essa lista de poemas, gostei muito do poema À espera dos bárbaros. Resolvi registrá-lo. Eis o link.
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Muitas vezes penso se a poesia pode ser traduzida… A poesia é portadora de sentir, de pensar, de emocionar, de reflexão, de sedução… Sendo assim eis algumas questões: Toda poesia pode ser traduzida e a tradução pode ser feia de qualquer idioma para qualquer idioma? Ou, somente algumas podem ser traduzidas? Ou ainda, de determinadas línguas para determinadas línguas? Penso que assim como o conceito de Arte é aberto e sempre incompleto, esta pergunta também é! Há palavras que existem numa linguagem e não existem em outras, assim como, conceitos e ideias… Bem eis a discussão e não se pode ver o fim desta questão… http://protestapoeta.blogspot.com/
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deixo um teto… que eu gostei de escrever…
Corpo
Tiro em riscos limpos
a forma do teu retrato.
O carvão educa o corpo,
o papel recita a linha
e a mão ensina o traço.
Os cabelos em cascata
na curva do teu ombro,
são ondas derramadas
de luz e de assombro.
Com esfuminho eu repasso
a poesia do teu ventre,
crio sombras embriagadas
pra cantar o teu regaço.
É a imagem mais lúcida
que desliza do meu lápis.
E depois dessa jornada,
uma coisa eu te suplico,
abriga esse andarilho
no calor do teu abraço.
(Paulo Moraes) 23/05/2014
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Lindíssimos é perfeitamente de tudo que mais amo ler. Poesias. Encontrei-o com grande facilicidade grandes é monstruosos poetas da literatura mundial . Não encomtrei voces no Instagram. Gostaria de receber é ler todas. Obrigada antecipadamente. Cecy Machado. n. Wats (92) 9982- 4363 🙏🙌❤️🌹
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Muito bom gosto. Sensibilidade!
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A vida me fica ai com cara de estúpida,
Obvia,
Quando eu tento todos os dias me reinventar,
E paladar de coisa mesma me dá um grande incomodo
Intensa dor estomacal
E gosto do mesmo me resseca a boca,
Faz-me vomitar
O frio e o calor não me distraem mais, a pele se tornou banal
Renasço e troco de derme, preciso de sensibilidade ainda que seja na tez
O tempo passa no meu rosto, sinto o beijo velho do dia de ontem
A fome de ser cedeu vez a outra fome,
A febre delira, a cabeça ferve,
Os versos de poética feia passeiam pelas cinzas de minhas penas,
Não abro os livros, as palavras riem do meu mau português,
Sou a piada da vez, o poeta que briga com as letras
E vive em silêncio
E sonha em francês,
Rende-vouz a todos vocês
Charles Burck
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Alimento o ódio, espargos e mantos
Alimento a mentira , verdade e cantos
Assustam me as cidades lotadas
As vozes da poesia dizem mais que qualquer coisa
dizem me tudo…
Cada um é cada qual e ninguém pode ser o mesmo…
O berço da humanidade ficou ameaçado..
O saudosismo da igualdade é trafulha..
A doutrina da fraternidade foi a guilhotina..
Povos prenhes abusados do consumismo..cairam
Povos prenhes abusados do ateísmo.. cairam
Uma apôs uma as cidades pagãs.. cairam
Nem todos somos iguais e nem nunca o seremos…
Assustam me as cidades enlutadas
Carlos Ac Liberal
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Embriagados corjas
de um mundo a abarrotado
de proezas
pobreza
e hostilidades
das pobres gentes
sem motivação
que vagam na privação
das suas inertes liberdades
Um Planeta desboto
de promiscuidade
em assombro contra o átrio
do atómico
”
Carlos Ac Liberal
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Hoje vou vos chamar a todos…mortais
pedra mortais
chama corais..altiva
onduras..
chama orais..
hossuna
hossuna alelluia…
por diluvio não fostes mais…
vivedes toda hora.. a perguntar!
a morada dos ancestrais..
pedra mortais
chama corais..altiva
onduras
assim rogais..
porque pedra chorais?
tudo é pedra;
tudo é terra
hoje aqui, amanha
acolá
no fim do mundo
onde não mais achais
hoje finda aqui
hoje começa aqui
a vida não para…
não morreu ninguém
foi um alívio
de quem lutou demais
pedra mortais
chama corais..altiva
onduras..
chama orais..
hossuna
hossuna alelluia…
por diluvio não fostes mais…
vivedes toda hora.. a perguntar! a morada
dos ancestrais..
pedra mortais
chama corais..altiva onduras assim
rogais..
carlos Ac liberal
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Essa é de todas as listas feita pela Folha de S. Paulo, a que possui maior número de obras feitas por brasileiros! Mas a meu ver, ainda poderiam ter colocado outros nomes, como o “Invenção de Orfeu” do Jorge de Lima, ou até mesmo o “Invenção do Mar” do Gerardo Mello Mourão.
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