FLOR ESTRANGEIRA
Poema de Robindronath Tagore, do seu livro Purobi (1925), dedicado a Victoria Ocampo
Ó flor, flor estrangeira,
quando te perguntei
teu nome,
abanaste a cabeça,
brincando.
E disse comigo:
Que pode haver num nome?
Pelo teu sorriso és conhecida
e somente por êle.
Ó flor, flor estrangeira,
quando te apertei ao meu coração
e perguntei:
– Dize-me, onde moras?
Abanaste a cabeça,
brincando.
– Não sei onde é,
respondeste.
E eu disse comigo:
Era inútil perguntar
de onde vinhas.
Tua casa está
no amoroso coração daquele
que te conhece
e apenas lá.
Ó flor, flor estrangeira,
quando te perguntei, num suspiro:
– Que idioma falas?
Abanaste a cabeça,
brincando,
enquanto as fôlhas
se punham a murmurar.
E comigo disse:
Agora sei
que a mensagem do teu perfume
transporta tua esperança sem palavras
e teu talento
é a minha própria vida.
Ó flor, flor estrangeira,
quando te perguntei,
a primeira vez que vim
de madrugada:
– Sabes quem sou?
Abanaste a cabeça,
brincando.
E disse comigo:
Não tem grande importância.
Se soubesses
que meu coração fica
cheio de alegria
perto de ti,
então, ninguém me conheceria melhor,
ó flor, flor estrangeira.
Ó flor, flor estrangeira,
quando te perguntei:
– Algum dia me esquecerás?
Abanaste a cabeça,
brincando.
E senti no meu coração
que me recordarias
muitas e muitas vezes,
quando eu te deixasse
por uma outra terra.
A distância virá
aproximar-nos
em sonho
e não me hás de esquecer
nunca mais.
(Nota: Este poema foi traduzido desde o inglês por Cecília Meireles. Robindronath Tagore esteve na casa de Victoria Ocampo em S. Isidro-B. Aires (Argentina), por mais de dois meses a finais de 1924. Entre ambos estabeleceu-se um amor profundo, a pesares da distância em idade. As muitas cartas que entre eles há assim o confirmam).
Muito bom o seu blog. Eu não conhecia a obra de Tagore, mas gostei muito do que li. Voltarei outras vezes, um forte abraço!
CurtirCurtir
Emocionante! Parabéns pelo blog. Grande abraço
CurtirCurtir
Quando era adolescente (há uns 45 anos…), encontrei em algum lugar um poema de Tagore, traduzido para o português: “Cem anos depois”. Copiei o texto e o guardo desde então, mas gostaria de ter acesso à versão em inglês. Você o conhece?
“Cem anos depois de agora,
quem serás, que curiosamente estarás lendo o meu poema?
Poderia mandar-te uma pequena parte
desta alegria matinal de Primavera,
plena de fragrâncias, etc”
CurtirCurtir
Amei o blog! Amo as poesias de Tagore e aqui encontrei a oportunidade de conhecer um pouco mais do belíssimo trabalho dele! Parabéns pelo blog!
CurtirCurtir